Tecnologia cultural brasileira



Carlos Minuano
[Agência 100Canais]

“Criatividade é um dos nossos ativos, afirmou o ministro da Cultura Gilberto Gil, no lançamento da série DocTV Ibero-américa, que reproduz modelo brasileiro de incentivo à produção local e ao intercâmbio cultural por meio de documentários regionais. Um modelo inovador de co-produção baseado no conceito de operação em rede que vai aproximar um pouco mais quinze culturas diferentes.
O programa DocTV Ibero-américa, lançado simultaneamente durante a última semana nos países participantes, traz quinze documentários que mostram diferentes realidades de países próximos – porém, distantes. Argentina, Chile, Uruguai, Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Porto Rico, Cuba, México, Portugal e Espanha.
Pouco antes da solenidade realizada em São Paulo, na Cinemateca Brasileira, o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, falou à reportagem do 100canais sobre a importância do evento. Segundo ele, uma valiosa oportunidade de troca de conhecimento: “Há entre os envolvidos a compreensão da necessidade do diálogo entre os países, e os instrumentos do cinema e da televisão são valiosíssimos para esse compartilhamento cultural, principalmente pela agilidade deles”.
Outros desdobramentos do programa, como o desenvolvimento tecnológico do setor audiovisual e a otimização dos modos de usos desses meios, podem representar ainda impactos relevantes para a economia, afirmou o ministro. No mundo, todo a força produtiva da cultura chama a atenção, lembra Gil. “A economia proveniente da produção cultural representa hoje 10% do PIB [Produto Interno Bruto] internacional, não é qualquer segmento que exibe essa pujança, é também o principal setor de exportação da maior economia mundial, a americana”.
Ele ressalta que o atual cenário é propício para o investimento em bens e serviços culturais. O DocTV é umas das apostas bem sucedidas, cujo modelo começa a ser reproduzido em outros países. “Estamos exportando tecnologia cultural”. De acordo com o ministro, seis países anunciaram interesse de reproduzir o formato.
Secretário do Audiovisual do MinC, Orlando Senna concorda com o ministro da Cultura. Para ele, a engenharia do “DocTV Brasil” foi a base para o modelo ibero-americano. “Trata-se de uma arquitetura pensada não apenas como fomento para a teledifusão de documentários, mas de incentivo direto a produções locais”. Ação que só foi possível pela união do poder público com emissoras de televisão e produtoras independentes, explica o secretário.
Todos os documentários realizados no programa foram financiados com recursos públicos e contam com exibição garantida nas redes públicas de televisão dos quinze países. O programa é resultado da iniciativa do Programa da Conferencia de Autoridades Audiovisuales y Cinematográficas de Iberoamérica (CAACI), coordenado pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAV/MinC), Secretaría Ejecutiva de la Cinematografía Iberoamericana (SECI) e Fundación del Nuevo Cine Latinoamericano.
A estréia da série DocTV Ibero-américa na televisão brasileira será no dia 7 de setembro, nas emissoras que compõem a rede pública de televisão. Os documentários serão veiculados às sextas-feiras, sempre às 22h40. Na programação de setembro tem Inal Mama, de Eduardo Lopez (Bolívia); Argentina e sua Fábrica de Futebol, de Sérgio Iglesias (Argentina); Jesus no Mundo Maravilha, de Newton Cannito (Brasil); e Héctor Garcia, Fotógrafo, de Carlos Rodrigo Montes de Oca (México).
Estradas eletrônicas
Por onde passou durante sua recente turnê mundial Banda Larga, Gil defendeu que a cultura deve ser livre e compartilhável. Questionado durante a entrevista que concedeu ao 100Canais se esse posicionamento seria levado para a nova TV pública que o Governo deve lançar até o final do ano, bem humorado respondeu: “Gostaria que fosse”. Depois de algumas risadas, prosseguiu. “Em minha participação nas discussões conceituais sobre o assunto tenho insistido na urgência da interface com as novas tecnologias”.
Outra demanda tecnológica defendida pelo ministro é a de uma banda larga pública. Para ele o governo deveria dedicar mais ênfase a essa questão. “Precisamos de um programa amplo de infovias disponibilizadas de forma livre, com acesso a todos. O fenômeno de Piraí [município do interior do Rio de Janeiro com banda larga pública] que eu relato em uma de minhas canções recentes é um modelo de cidade digital que precisa ser estendido a outras regiões do país, como já ocorre em outras partes do mundo, por exemplo, em Paris”.
Gil salienta que o acesso público à internet e suas inúmeras interações são fundamentais ao desenvolvimento brasileiro. “Como vamos fazer educação no presente e no futuro sem interconexão, sem rede, sem compartilhamento?”, questiona. “Não vai!”, responde antes que este repórter pense em esboçar alguma resposta. “É urgente que a banda larga se torne uma política pública e privada neste país”, completa.

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