Cinema de índio


Estive em dezembro de 2010 no cinquentenário Parque Indígena do Xingu (MT), cuja história é contada no longa "Xingu", de Cao Hamburger, que chega às telas nesta sexta, 06. Parte dessa viagem é contada na reportagem à seguir, publicada na Revista do Brasil, em abril de 2011. A matéria fala da familiaridade com câmeras fotográficas e filmadoras. Entre os ikpeng da aldeia Moyngo, no Médio Xingu, a tecnologia tornou-se instrumento de resistência cultural. 
Resistência cultural via novas tecnologias/foto de Christian Knepper

No futuro, quem sabe, dirão ser rastros de civilizações antigas as imensas áreas descampadas onde se destacam enormes geoglifos, como o que avistamos da janela do monomotor que nos leva rumo ao Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. Mas o desenho no solo, em forma de sucuri, cujos contornos foram demarcados com eucalipto e soja, nada tem a ver com os indígenas da região.


Desmatamento e soja avançam em direção ao Xingu/foto de Carlos Minuano

Os campos verdes são a marca mais chocante do desmatamento provocado pela plantação de soja que avança Amazônia adentro. É isso, e não a beleza da região, o que rouba a atenção na porta de entrada do parque indígena criado pelos irmãos Villas Bôas (Orlando, Cláudio e Leonardo), que neste ano completa seu cinquentenário.
O cenário muda quando aterrissamos no Médio Xingu, na aldeia do povo Ikpeng - uma das 14 etnias que vivem na terra indígena. Por lá, a beleza natural salta aos olhos e a natureza é preservada. O clima também é contagiante. "Aldeia nova, tudo novo", comemora o simpático pajé Araká, enquanto nos guia até a aldeia Moyngo, para onde ele e sua tribo se mudaram há poucos meses
O espaço, com 12 cabanas, fica a 15 minutos do posto indígena Pavuru - comunidade à parte, com área de atendimento médico, escola. É onde vivem também os profissionais que trabalham no local.
O pequeno grupo de jornalistas chega à aldeia para a festa de inauguração da Mawo, a Casa de Cultura Ikpeng, que passa a ser base de ações como formação, pesquisa, registro, difusão cultural e inclusão digital. O projeto é fruto de uma parceria entre a Associação Indígena Moygu da Comunidade Ikpeng, o Instituto Catitu - Aldeia em Cena e o Museu do Índio/Funai, com financiamento da Petrobras.
Foram três dias de celebração, com lançamento de um CD com cantos do Yumpuno, ritual de iniciação das crianças, e do documentário Som Tximma Yukunang, dirigidos pelos indígenas Kamatxi Ikpeng e Karané Ikpeng, com apoio da cineasta Mari Corrêa, do Instituto Catitu. O filme retrata o rito de passagem em que jovens são tatuados e aborda a tradição oral que permanece forte entre os Ikpeng, meio pelo qual conhecimentos e mitos ancestrais continuam sendo transmitidos por gerações.

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