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Mostrando postagens de junho, 2006

A revolução social da Comuna de Paris

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ARTE & HISTÓRIA (em quadrinhos) Durante dois meses, na França, a utopia de uma democracia proletária tomou o poder. Um álbum de quadrinhos com dois volumes, “O Grito do Povo - Os canhões de 18 de março” e “O testamento das ruínas”, de Jean Vautrin e Jacques Tardi, resgatam a revolução dos operários parisienses com ares de romance policial. Carlos Minuano – especial para Carta Maior O recente manifesto estudantil, ocorrido em Paris, contra a lei do primeiro emprego –classificada pela maioria como reacionária – reafirma uma tradição francesa: a das insurgências populares de rua. Um dos primeiros registros dessa tendência, um episódio que ficou conhecido como a Comuna de Paris, acendeu no país, entre março e maio de 1871, as chamas da justiça social que semearia no povo ao longo da história daquele país o sentimento libertário e a sede revolucionária que ainda ousa sonhar com um país onde exista de fato liberdade, igualdade e fraternidade. É louvável toda iniciativa de desfazer a cor

Os dois lados do lixo

Por Carlos Minuano e Max Gonçalves Dona Geralda, apelido de Maria das Graças Marçal, é uma das mais antigas catadoras de papel da cidade de Belo Horizonte. Vinda do interior de Minas para a capital em busca de uma vida melhor, ela faz parte da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare), uma cooperativa que recolhe 450 toneladas de lixo por mês e beneficia indiretamente 1500 pessoas. Ouvida pela Fórum há dois anos, ela dizia ter um sonho. “Queremos transformar a Asmare em uma indústria de reciclagem e, assim, fechar todo o ciclo produtivo”. Em setembro, o sonho de dona Geralda se realizou. Foi inaugurada na capital mineira a primeira unidade industrial de reciclagem de plástico da América Latina, fruto de uma parceria dos catadores com a Fundação Banco do Brasil, BrasilPrev, Ministério do Trabalho e Emprego, Petrobrás e a prefeitura de BH. A fábrica tem inicialmente capacidade de produção superior a três toneladas e agora os trabalhadores finalmente d

Plínio Marcos revisitado

Por Carlos Minuano Talvez ele tenha sido um dos artistas mais perseguidos pela ditadura brasileira. Foi acusado de subversivo e preso inúmeras vezes por conta de suas peças que revelavam, sem retoques, a realidade que não interessava ao governo de plantão. Graças a isso, sua obra foi proibida por duas longas décadas. Mas hoje, Plínio Marcos, é consagrado pela crítica como um dos nomes mais importantes da dramaturgia brasileira e uma série de homenagens busca resgatar a sua obra. Um desses tributos é a nova edição de A Navalha na Carne, lançada pela Azougue Editorial (160 págs., R$ 46,00). Com um projeto gráfico diferenciado, todo ilustrado por fotos em preto-e-branco, em alto contraste, o livro traz o ambiente marginal da peça. Os diálogos utilizam letras em vários tamanhos para indicar os níveis de intensidade dramática de cada cena. Algumas páginas são ocupadas por uma única frase, outras apenas por uma foto, que também variam de tamanho com o mesmo objetivo. Embora a edição de luxo
Rebeliões rítmicas No CD independente Rebelião na Zona Fantasma, poesias revestidas com o clima do velho blues do delta do Mississipi Carlos Minuano Agência Carta Maior Disco de poesia ou versos com música de fundo? Talvez as duas opções estejam corretas, mas a sensação ao ouvir o CD “Rebelião na Zona Fantasma”, do poeta Ademir Assunção, que acaba de sair do forno, é de que há algo mais. O autor mistura em sua panela diabólica entonações e ritmos que revestem as palavras com o clima do velho blues do delta do Mississipi. Inclui ainda pitadas da cadência rítmica típica do jazz e do rock.Resultado de mais de dez anos de produção, incluindo mais dois de estúdio, o trabalho inova. Com a colaboração de amigos, como Zeca Baleiro e Edvaldo Santana, Ademir agarra nos dentes sua poesia e se recusa a ser um mero letrista. Faz questão de levar suas composições ao palco. No centro de sua busca, nasce um lugar de fusão entre a musica e a poesia. “Queria que elas estivessem no mesmo plano, ou m

Nas águas do rio Tietê, os paradoxos do Brasil

QUARTA PAREDE Grupo Teatro da Vertigem, que já encenou peças em igreja, hospital e presídio, invade agora as águas poluídas do rio Tietê. Durante o espetáculo BR-3, os personagens navegam por um país repleto de contradições. Carlos Minuano Teatro em espaços diferenciados não é exatamente uma novidade. Pelo mundo afora, várias experiências do gênero já quase esgotaram a fórmula. Quase, pois a peça BR-3, que o Teatro da Vertigem acaba de estrear em São Paulo, extrapola as expectativas. O grupo, que já encenou em igreja, hospital e presídio, invade agora as águas poluídas do rio Tietê, onde os personagens navegam por décadas de um Brasil repleto de contradições. Ao longo do leito do principal rio da capital paulista, 13 atores esgueiram-se por margens, sob pontes, saídas de córrego ou em um pequeno barco a motor. Eles contam a história de Jovelina (Marilia de Santis), que sai à procura do marido enviado para trabalhar na construção de Brasília. Sem sucesso na busca, ela acaba tornando-se

A crise política, segundo Marquês de Sade

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QUARTA PAREDE Peça do grupo Satyros, em cartaz até junho em São Paulo, faz conexão entre os porões corruptos do poder e o clássico romance “Os 120 Dias de Sodoma”, escrito pelo Marquês de Sade. Carlos Minuano – especial para Carta Maior Um dos textos de Marques de Sade, utilizados na atual montagem de “120 Dias de Sodoma”, do grupo Satyros, em cartaz até junho em São Paulo, expõe de forma incisiva a tônica do espetáculo: “Vejo todos os dias, nas ruas, os miseráveis que nada possuem e através da comparação posso dizer: como somos afortunados!”. Aos poucos, ao longo da peça, a França de Sade vai sendo costurada ao Brasil atual. Estabelecida a conexão, não é difícil identificar as semelhanças: corrupção por todos os lados, decadência generalizada das instituições e as, cada vez mais gritantes, diferenças sociais. Se na França os cambalachos escusos dos poderosos de plantão resultaram em uma revolução, na opinião de Rodolfo García, que assina a adaptação e a direção da peça, por aqui a c