“O mundo está de olho no cinema brasileiro”, afirma Paulo Carvalho
O mundo está de olho no cinema brasileiro. Quem afirma é Paulo Carvalho, brasileiro radicado na Alemanha desde 1989, um dos nomes responsáveis pela atual projeção da produção nacional em terras estrangeiras. Há décadas ele atua como curador de cinema latino-americano em festivais europeus. “Existe uma atenção voltada ao Brasil devido à situação política e econômica”, diz Carvalho.
O Brasil também está de olho na nova safra brasileira que tem chegado às telas. Os números divulgados na última semana pela Ancine mostram isso. De acordo com o relatório, o desempenho melhorou. Sete filmes ultrapassaram um milhão de espectadores. Claro que, se chegarmos mais perto, analisarmos com mais cuidado, dá pra ver que não é bem assim, que nem tudo é festa. Boa parte da produção permanece no limbo da invisibilidade.
Mas o clima é bom. E a julgar pelo que se viu na 15º Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro, o setor audiovisual deve seguir aquecido. O festival que abre o calendário audiovisual brasileiro se consolidou como celeiro de novos diretores e importante vitrine do cinema independente.
Mas qual o panorama do cinema brasileiro fora daqui? Quais as dificuldades de inserção e de financiamento do cinema independente e mais autoral nos grandes festivais europeus.
É justamente essa a praia de Paulo Carvalho, que atualmente trabalha em diversos festivais na Alemanha e se dedica a promover o cinema latino-americano em sua produtora independente, a Cachoeira Films, que criou em 1999. Carvalho também fundou o Festival CineLatino, que já está na 18º edição e acontece paralelamente nas cidades alemãs de Tübingen, Stuttgart e Freiburg.
Na Alemanha, através da produtora Autentika Films, realiza coproduções de filmes latino-americanos de países como Chile, Peru e Brasil. Por aqui, coproduziu recentemente o “Filmefobia”, de Kiko Goifman e “Girimunho”, de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina, que estreiou em 2011 na seção oficial Orizzonti no Festival Internacional de Veneza.Também é consultor para a America Latina, em especial para o Brasil, na seção Quinzaine des Réalisateurs de Cannes.
Como se fosse pouco, no Brasil atua como consultor para o encontro internacional de coprodução Brasil CineMundi – cuja 3ª edição acontece de 18 a 23 de outubro de 2012 -, durante a Mostra CineBH, em Belo Horizonte.
Paulo Carvalho conversou com o Cultura e Mercado e o papo, como não poderia deixar de ser, girou em torno do atual bom momento do cinema brasileiro e o crescimento da produção independente.
Cultura e Mercado: Você afirma que o mundo está de olho no cinema brasileiro, pode falar mais sobre isso?
Paulo Carvalho: Existe uma atenção voltada ao Brasil devido à situação política e econômica que o país atravessa. Essa atenção também se espelha na produção cinematográfica atual. O Brasil esteve presente em algumas seções oficiais de Festivais Internacionais significativos na Europa, por exemplo, em Roterdã, “O Céu Sobre Os Ombros” de Sergio Borges, “Os Residentes de Tiago Mata Machado”, na seção Forum da Berlinale, em Cannes na Certain Regard, “Trabalhar Cansa” de Marco Dutra e Juliana Rojas e Karim Ainouz com “O Abismo Prateado” na seção Quinzaine.
Paulo Carvalho: Existe uma atenção voltada ao Brasil devido à situação política e econômica que o país atravessa. Essa atenção também se espelha na produção cinematográfica atual. O Brasil esteve presente em algumas seções oficiais de Festivais Internacionais significativos na Europa, por exemplo, em Roterdã, “O Céu Sobre Os Ombros” de Sergio Borges, “Os Residentes de Tiago Mata Machado”, na seção Forum da Berlinale, em Cannes na Certain Regard, “Trabalhar Cansa” de Marco Dutra e Juliana Rojas e Karim Ainouz com “O Abismo Prateado” na seção Quinzaine.
Em Veneza estiveram “Girimunho” de Helvécio Marins Jr e Clarissa Campolina na secção oficial Orizzonti e “Histórias Que Só Existem Quando Lembradas” de Julia Murat na seção Semana da Critica. Uma boa presença de diretores de primeiro longa, na sua maioria (exceção de Karin), em alguns dos festivais internacionais mais importantes do mundo. Por outro lado uma representação tímida em comparação com o numero total de produções anual.
CeM: Tem alguma dica pra quem quer viajar com seus filmes pelo mundo? Qual a receita do bolo?
PC: O caminho é buscar propostas estéticas originais fugindo de fórmulas convencionais e pré-estabelecidas, assim como temas universais com um toque regional, alguns dos festivais internacionais mais significativos encontram poucas referências no panorama do cinema brasileiro contemporâneo, pelo menos no que diz respeito ao ano de 2011.
PC: O caminho é buscar propostas estéticas originais fugindo de fórmulas convencionais e pré-estabelecidas, assim como temas universais com um toque regional, alguns dos festivais internacionais mais significativos encontram poucas referências no panorama do cinema brasileiro contemporâneo, pelo menos no que diz respeito ao ano de 2011.
CeM: Pode fazer uma comparação entre as cenas brasileiras e argentinas, observando essas questões de custos de produção e inserção no mercado internacional?
PC: Numa comparação entre a produção cinematográfica argentina e brasileira, creio que uma maneira geral pode ser colocada da seguinte forma: os argentinos conseguem produzir filmes com um orçamento bem menor que os filmes brasileiros de médio porte. Por outro lado, eles não possuem grandes produções como os brasileiros, “Lula”, “Tropa de Elite” e outros. A Argentina não sofre da forte influência da estética televisa que hoje no Brasil é muito presente e que através de forte campanha de marketing consegue atingir números elevados de publico. Mas, no geral, os roteiros dos filmes argentinos são melhores trabalhados e amarrados.
PC: Numa comparação entre a produção cinematográfica argentina e brasileira, creio que uma maneira geral pode ser colocada da seguinte forma: os argentinos conseguem produzir filmes com um orçamento bem menor que os filmes brasileiros de médio porte. Por outro lado, eles não possuem grandes produções como os brasileiros, “Lula”, “Tropa de Elite” e outros. A Argentina não sofre da forte influência da estética televisa que hoje no Brasil é muito presente e que através de forte campanha de marketing consegue atingir números elevados de publico. Mas, no geral, os roteiros dos filmes argentinos são melhores trabalhados e amarrados.
No mercado internacional as duas filmografias possuem os mesmos problemas de inserção e lançamentos internacionais, principalmente se me refiro ao mercado alemão, por exemplo. Em se tratando de França e Espanha a presença de filmes argentinos nestes mercados é relativamente superior ao brasileiro. No mercado de língua inglesa não tenho dados concretos. Em 2011, em se tratando de festivais internacionais, o cinema argentino tem alguns prêmios consideráveis, como, por exemplo, a câmera de ouro em Cannes com “Las Acacias” de Pablo Giorgelli e também “Abrir Puertas y Ventanas” de Milagros Mumenthaler, que ganhou o Pardo de Ouro no Festival de Locarno, os dois são filmes de diretores estreantes.
CeM: Pode falar um pouco sobre a atual produção nacional?
PC: Eu vejo a atual situação do cinema brasileiro bastante estável com muitas possibilidades de apoio para a produção e uma ascendência no apoio de fundos regionais que fortalecem a produção fora do eixo Rio-São Paulo, tendo como exemplo em Minas Gerais e Pernambuco. O problema maior se concentra na distribuição dos filmes em geral devido a um número reduzido de salas pelo país tendo em conta o volume da produção nacional. Os filmes autorais independentes e os documentários acabam sofrendo muito para permanecer em cartaz, apesar de terem surgido distribuidores que se concentram mais em trabalhar com estes filmes. Mercado este que acaba sendo ocupado basicamente por blockbusters americanos e brasileiros. A busca de um cinema popular onde os números devem justificar a sua presença no mercado é legitimo, mas o que se deve estar atento é não somente falar de um cinema industrial, onde ainda não se tem concretamente uma industria cinematográfica em detrimento de uma diversidade cultural, natural de um país como o Brasil, da qual também faz parte o cinema de buscas narrativas e estéticas, assim como expressões com identidade personalizada. Passando pelas produções que conseguem ter uma veia autoral e mesmo assim conseguem atingir um grande publico. Enfim, uma produção que represente um amplo leque de propostas cinematográficas, que na realidade reflexa a diversidade cultural do país, fugindo de uma proposta narrativa e estética standart.
PC: Eu vejo a atual situação do cinema brasileiro bastante estável com muitas possibilidades de apoio para a produção e uma ascendência no apoio de fundos regionais que fortalecem a produção fora do eixo Rio-São Paulo, tendo como exemplo em Minas Gerais e Pernambuco. O problema maior se concentra na distribuição dos filmes em geral devido a um número reduzido de salas pelo país tendo em conta o volume da produção nacional. Os filmes autorais independentes e os documentários acabam sofrendo muito para permanecer em cartaz, apesar de terem surgido distribuidores que se concentram mais em trabalhar com estes filmes. Mercado este que acaba sendo ocupado basicamente por blockbusters americanos e brasileiros. A busca de um cinema popular onde os números devem justificar a sua presença no mercado é legitimo, mas o que se deve estar atento é não somente falar de um cinema industrial, onde ainda não se tem concretamente uma industria cinematográfica em detrimento de uma diversidade cultural, natural de um país como o Brasil, da qual também faz parte o cinema de buscas narrativas e estéticas, assim como expressões com identidade personalizada. Passando pelas produções que conseguem ter uma veia autoral e mesmo assim conseguem atingir um grande publico. Enfim, uma produção que represente um amplo leque de propostas cinematográficas, que na realidade reflexa a diversidade cultural do país, fugindo de uma proposta narrativa e estética standart.
CeM: Fale um pouco do seu trabalho no CineMundi.
PC: O encontro internacional de coprodução Brasil CineMundi em seu segundo ano cumpriu o seu objetivo principal, de dar um passo avante no sentido de desenvolver um espaço de encontro e dar um passo a mais no sentido de fomentar uma rede de contatos entre os profissionais do audiovisual brasileiro com profissionais internacionais. Em 2011, selecionamos 10 projetos brasileiros, grande parte projetos de primeiro e segundo filme. O que podemos observar é que entre os representantes brasileiros dos projetos selecionados havia uma atmosfera muito descontraída e solidária. Os representantes internacionais presentes propiciaram um retorno positivo em relação à qualidade dos projetos, da organização do evento, assim como da boa hospitalidade e da possibilidade de conhecer uma região do país pouco conhecida por eles. Para esse ano pretendemos manter o formato do encontro o mesmo numero de projetos e investir num numero maior de convidados internacionais, principalmente de produtores.
PC: O encontro internacional de coprodução Brasil CineMundi em seu segundo ano cumpriu o seu objetivo principal, de dar um passo avante no sentido de desenvolver um espaço de encontro e dar um passo a mais no sentido de fomentar uma rede de contatos entre os profissionais do audiovisual brasileiro com profissionais internacionais. Em 2011, selecionamos 10 projetos brasileiros, grande parte projetos de primeiro e segundo filme. O que podemos observar é que entre os representantes brasileiros dos projetos selecionados havia uma atmosfera muito descontraída e solidária. Os representantes internacionais presentes propiciaram um retorno positivo em relação à qualidade dos projetos, da organização do evento, assim como da boa hospitalidade e da possibilidade de conhecer uma região do país pouco conhecida por eles. Para esse ano pretendemos manter o formato do encontro o mesmo numero de projetos e investir num numero maior de convidados internacionais, principalmente de produtores.
(Para o Cultura e Mercado)
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