Retrospectiva 2013: Temática religiosa domina vendas de livros no Brasil

Carlos Minuano
Do UOL, em São Paulo


O universo literário brasileiro fez barulho em 2013, especialmente no segundo semestre. Marcado pelo intenso embate entre escritores e artistas em torno da liberdade --ou não-- das biografias não autorizadas, o ano termina com uma autobiografia no topo da lista de livros mais vendidos: "Nada a Perder 2 - Meus Desafios Diante do Impossível" (Planeta), de Edir Macedo. Lançado em agosto, a obra escrita pelo líder evangélico em parceria com Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da Record, já ultrapassou a marca de 700 mil exemplares vendidos.
A primeira parte da biografia do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e principal acionista da Rede Record já vendeu cerca de 1,4 milhão de cópias e permanece em quinto lugar no ranking do site PublishNews, que monitora as vendas de livrarias por todo o país. No primeiro livro, o evangélico repassa a trajetória espiritual e aborda questões pessoais. No segundo, detalha as investidas no mundo empresarial, passando pela compra da emissora e o intenso trânsito na política.

O livro do líder evangélico no topo de vendas confirma uma aposta das editoras em publicações com temática religiosa. O segundo lugar das obras mais vendidas traz outra obra de não-ficção de autor nacional: "Kairós - O Tempo de Deus", do padre Marcelo Rossi (publicado pelo selo Principium, da editora Globo). O novo livro do padre foi lançado com tiragem inicial de 500 mil exemplares.

Com prefácio assinado por outro sacerdote pop, o padre Fábio de Melo, "Kairós" divide entre 14 capítulos passagens bíblicas adaptadas ao formato de autoajuda. Lições de fé e paciência são protagonizadas por personagens como Abraão, Moisés e Jó.

A lista da PulshNews aponta o livro do padre Rossi em segundo lugar, com mais de 350 mil cópias da obra vendidas, mas de acordo com números da Editora Globo, ele é que está no topo da lista. Segundo a empresa, "Kairós" já vendeu mais de 1,7 milhão de exemplares, desde o lançamento em abril. É bem possível que o padre esteja comemorando também o acerto do título --a palavra grega 'kairós', em português, significa 'momento certo'.


Ficção
O ranking dos mais vendidos aponta a ficção como o gênero preferido dos leitores em 2013, mas aqui os autores nacionais desaparecem da lista. Quem lidera as vendas é o novo livro de Dan Brown, "Inferno" (lançado em junho pela Arqueiro). O título fecha o ano com mais de 250 mil copias vendidas. A receita é a mesma de "O Código da Vinci": história, arte e códigos para Robert Langdon decifrar.

Os eróticos direcionados ao público feminino ainda aproveitam os suspiros da série-fenômeno "Cinquenta Tons", de E.L. James. A trilogia que arrebatou leitoras ávidas pelo gênero foi a série erótica "Crossfire", da escritora Sylvia Day. Lançada pela Companhia das Letras com os títulos "Toda Sua", "Profundamente Sua" e "Para Sempre Sua", a tríade já vendeu mais de 500 mil exemplares.

Barulhinho bom


Apesar de não constarem entre os mais vendidos, outros lançamentos causaram um barulhinho bom em 2013. Um feito raro foi o de "Toda Poesia" (publicado pela Companhia das Letras), que reúne os mais de 600 poemas de Paulo Leminski, de diferentes fases e estilos. Logo após o lançamento, no início do ano, chegou a ficar na frente do pornô-soft "Cinquenta Tons" no ranking de ficções.

No meio do fogo cruzado sobre biografias não autorizadas, "Marighella" (Companhia das Letras), do blogueiro do UOL Mario Magalhães, levou o Prêmio Jabuti de melhor biografia e acaba de ganhar sua quinta reimpressão. O ano também encerra passando a limpo, ainda que com décadas de atraso, a trajetória do escritor beat Jack Kerouac. A principal análise crítica da obra do ícone da contracultura ganhou uma edição brasileira, "O Livro de Jack - Uma Biografia Oral de Jack Kerouac" (lançamento do selo Biblioteca Azul, da editora Globo).

O segmento de quadrinhos em 2013 teve bons momentos e novidades importantes. O álbum de luxo "A Mente Suja de Robert Crumb" (Veneta) é um dos lançamentos de maior relevância. Com as histórias mais pervertidas do célebre quadrinista setentão, a antologia reúne um conteúdo certamente impróprio para menores. Algumas histórias chegaram a parar em tribunais, e em alguns casos terminaram proibidas.

Outra boa notícia é a própria chegada da editora Veneta, do mesmo criador da Conrad, Rogerio de Campos. Além de celebridades do mundo underground --como o velho Crumb-- a nova editora tem investido também em nomes pouco conhecidos. Um deles que acaba de sair do forno é "Parafusos, Zumbis e Monstros do Espaço", do paraibano Juscelino Neco, uma divertida comédia inspirada no gênero de terror trash. O autor, que chegou à editora Veneta, indicado pelo cartunista Laerte, define sua obra como "um filme B em quadrinhos".



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