A estrela e a esperança


Tive a sorte de conviver durante cerca de um ano no inicio da década de 1990 com o escritor e dramaturgo Plínio Marcos. O tarô era um assunto recorrente nas conversas que tivemos. Aliás, ele fez o que pode para me ensinar a ler esse oráculo misterioso. Ele ressaltava sempre que era um dos caminhos de autoconhecimento, jamais um sistema de adivinhação ou de previsão de futuro. Seria pretensão dizer que aprendi, mas lembro de algumas lições.

Uma delas era sobre a esperança. Plínio dizia: “É a última que morre, mas quando morre, morremos com ela”. No baralho de Marselha, um dos mais antigos, a esperança é representada pela carta número 17, “A Estrela”. Ele gostava de temperar as conversas misturando historias do taro mitológico.

No baralho mitológico, a carta da estrela se entrelaça a Pandora, que no mito grego abriu a caixa cheia de desgraças dada à humanidade por Zeus com a advertência de que nunca fosse aberta. Mas, além de linda, a jovem era, como toda mulher, muito curiosa e abriu a tal caixa, deixando escapar doenças, insanidade, vício, e desgraças em geral.

Mas de acordo com a mitologia, além das urucubacas todas, Zeus colocou também na caixa, a esperança, um dos atributos mais valiosos do espirito humano. E apesar da caixa de pandora ter sido aberta, a esperança não escapou. Essa carta manda uma mensagem oportuna para o dia de hoje, o primeiro do ano de 2015: Esperança.

Minha primeira atividade deste ano foi visitar minha mãe no hospital. Infelizmente, ela passou seu aniversário e também o Réveillon em uma UTI, após uma cirurgia de emergência e luta para se recuperar. No caminho, na avenida Brigadeiro Luís António, um alvoroço interrompia o trânsito na altura do cruzamento com a rua Treze de Maio.

Viaturas da policia, bombeiros, equipes de resgate e um carro da perícia em volta de um ônibus parado. Assalto? Acidente? Briga? Não. Logo em seguida descobri o motivo. Alguém havia acabado de se jogar do oitavo andar de um prédio e caído em cima do ônibus. Uns lutando para ficar, outros acelerando para ir embora.

É isso. Tem gente rindo, tem outras chorando. Eu peço a Deus um tanto mais de esperança, de fé na vida, e na certeza de que apesar dos pesares, como bem disse Cacá Diegues, dias melhores virão. A estrela ganhou uma bela musica do rico cancioneiro de Gilberto Gil, trilha também oportuna para o dia de hoje e para esse texto. Pra quem quiser pegar carona, segue o vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=Ewc3GfYWaOU

Feliz 2015 para todos nós, com saúde, sorte e luz no caminho.

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