O problema é a droga de vida

Cracolândia em 2014. Foto de Marcelo Camargo (Agência Brasil)
A tentativa de internação coletiva dos viciados após a ação do último domingo revela a orientação da política de Doria. A ideia é recuperar a região, não as pessoas. Não há no horizonte desse governo nenhuma solução razoável do problema que grita no centro. Na minha opinião, falta as autoridades chamarem quem entende do assunto, ou seja uma equipe multidisciplinar para, junto com a sociedade, olharem para a questão da droga sem esse imediatismo tosco e midiático que esta sendo usado.
Naquele cenário, feio e fedorento, estão escancaradas muitas de nossas mazelas, misérias, desesperos e aflições. E esse beco sem saída mostra nossa falência como sociedade e a incapacidade de todos para lidar com esse problema. O consumo da droga e suas consequências mais visíveis representam só uma camada superficial da questão.
Falta olhar o que está abaixo dessa casca suja. Por trás desse câncer existe muita, mas muita infelicidade, miséria e solidão. E não será com a simples interrupção do consumo ou da venda da droga que o problema se resolverá. Nem muito menos com internações coletivas e compulsórias. Isso é arbitrário e autoritário. A cidade não tem estrutura para acolher essas pessoas e nem muito menos um tratamento adequado para elas. 
Enfim, é preciso olharmos o problema das drogas de uma maneira menos hipócrita. Em um dos levantes mais icônicos de nossa história, a revolução estudantil de Paris, nos idos de 1968, cartazes e pichações, cheias de utopia e paixão, alertavam: “o problema não é a droga, mas a droga de vida.”

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