Filme sobre faquiresa underground abre festival Satyrianas

Resolvi ressuscitar esse blog para falar sobre o filme inusitado que abre a edição deste ano estranho do festival Satyrianas, o longa independente "A senhora que morreu no trailer", sobre a bailarina exótica Suzy King, figura marginal, underground e exótica, que viveu histórias tão insanas quanto desconhecidas.

Na realidade, a Suzy foi uma faquiresa baiana, encantadora de serpentes, que teve uma vida conturbada e terminou seus dias de maneira misteriosa. Foi encontrada morta em um trailer na fronteira dos Estados Unidos com o México.

Será a primeira exibição do filme, dirigido por Alberto de Oliveira e Alberto Camarero (dupla conhecida como os Albertos), duas figuras também um tanto curiosas, são meio que caçadores de faquiresas. Eles já falaram da Suzy King em um livro sobre faquiresas brasileiras que jejuavam seminuas entre serpentes, lançado anos atrás. Escrevi uma matéria para o UOL na época.

A exibição do longa independente, produzido pela DGT Filmes, será online e gratuita no Youtube, hoje quinta-feira, às 21h25. Para assistir clique aqui. No elenco, tem feras, como Helena Ignez, Zilda Mayo, Márcia Dailyn, Divina Valéria, Maura Ferreira, entre outras atrizes, todas interpretando Suzy King - ou, facetas da faquiresa.

Cá para nós, a Maura, mulher trans, é uma pauta à parte. Fez a transição de gênero aos 50 anos e quando ainda era Mauro Marinho foi ator na boca do lixo e assistente do Zé do Caixão. Além de interpretar uma das histórias da Suzy King no longa dos Albertos, tem planos de se lançar como faquiresa. Certamente será a primeira do século e também a primeira a transexual a enveredar por esses caminhos faquirescos.




As mil faces de Suzy King

Artista complexa, de muitas faces, Suzy King, retratada no filme, foi o que a gente pode chamar de uma figura muito doida. Nasceu Georgina no sertão da Bahia, depois virou Diva Rios na Boca do Lixo paulista e na Lapa carioca se transformou em Suzy King. Depois ainda mudou o nome para Jacuí Japurá, já na fronteira dos Estados Unidos com o México. Foi cantora, compositora, atriz, bailarina clássica e folclórica, dançarina exótica e burlesca, encantadora de serpentes e faquiresa entre outras atividades até ser encontrada morta no trailer em que vivia na Califórnia em agosto de 1985.

Os diretores também estão lançando uma biografia da Suzy, mas a impressão do livro (que já está pronto) depende ainda de uma grana que a dupla está tentando levantar por crownfunding. Ou seja, a parada toda vai para além do filme. Mas, a vaquinha online só rola até 12 de dezembro, se for colaborar, corre.

Vale dizer ainda, sobre o festival Satyrianas, que a edição deste ano, que acontece (como quase tudo hoje em dia), no formato virtual, marca também os 20 anos da chegada do famigerado grupo Satyros à praça Roosevelt. Parabéns para eles. Mais informações sobre a programação, que começa hoje e está recheado de boas atrações no site do evento.


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