Plínio Marcos revisitado

Por Carlos Minuano

Talvez ele tenha sido um dos artistas mais perseguidos pela ditadura brasileira. Foi acusado de subversivo e preso inúmeras vezes por conta de suas peças que revelavam, sem retoques, a realidade que não interessava ao governo de plantão. Graças a isso, sua obra foi proibida por duas longas décadas. Mas hoje, Plínio Marcos, é consagrado pela crítica como um dos nomes mais importantes da dramaturgia brasileira e uma série de homenagens busca resgatar a sua obra.

Um desses tributos é a nova edição de A Navalha na Carne, lançada pela Azougue Editorial (160 págs., R$ 46,00). Com um projeto gráfico diferenciado, todo ilustrado por fotos em preto-e-branco, em alto contraste, o livro traz o ambiente marginal da peça. Os diálogos utilizam letras em vários tamanhos para indicar os níveis de intensidade dramática de cada cena. Algumas páginas são ocupadas por uma única frase, outras apenas por uma foto, que também variam de tamanho com o mesmo objetivo.

Embora a edição de luxo pareça inovadora e moderna, é na realidade uma reprodução fac-símile da edição original lançada em 68. O livro, por essas contradições insondáveis do destino, nasceu graças à perseguição da ditadura militar quando, ainda durante os ensaios, em 67, a peça A Navalha na Carne teve sua apresentação proibida. A alternativa, para que ela não adormecesse anos na gaveta, foi lançá-la em livro. Outra homenagem chega pelo cinema. No inicio de 2006 deve chegar às telas Querô, do cineasta Carlos Cortez, baseado no livro Querô, Uma Reportagem Maldita, publicado em 1976 e relançado pela Editora Publisher Brasil (96 págs., R$ 18,00) O filme conta a história de um garoto pobre, filho de uma prostituta e de como ele desandou por uma infeliz e dolorosa jornada pelo submundo do crime e da violência. Cortez conta que usou o livro como bússola, mas informa que fez algumas adaptações. “Mudamos algumas coisas para não chocar o público. No livro, se a barra pesar você tem a opção de fechá-lo, no cinema isso não é possível”, observa o diretor. Gravado em maio e junho deste ano, o filme teve em seu elenco crianças carentes encontradas em favelas e cortiços da zona portuária de Santos. “São jovens que conhecem a realidade tratada no filme”, explica Cortez.

Outra novidade quem traz é Kiko Barros, 38, filho de Plínio Marcos, e atualmente responsável pela obra de seu pai. Em entrevista à Fórum, ele falou sobre o projeto de um CD que será produzido a partir de uma gravação registrada no vinil, Plínio Marcos em Prosa e Samba, de 1973, que foi realizada durante uma série de shows que fazia com amigos sambistas, no começo de sua carreira em São Paulo. Por meio das historias de Toniquinho Batuqueiro, Geraldo Filme e Zeca da Casa Verde, Plínio resgata também a desconhecida historia do samba paulista. Em um país carente de memória cultural, é uma importante contribuição para o registro desse período. Kiko, no entanto, não arrisca uma data para o lançamento do CD. Segundo ele, o projeto envolve várias famílias e há ainda uma serie de etapas burocráticas.

Além das homenagens, Kiko pretende também desfazer o que ele considera alguns equívocos, como o estigma de “maldito” associado a Plínio Marcos por seu mergulho nas profundezas sórdidas da alma humana. Para Kiko, seu pai é incompreendido até hoje. “Ele é, na verdade, uma luz no fim do túnel, nutria um profundo amor pela raça humana, e, por isso mesmo, denunciou em sua obra, durante toda a sua vida, a destruição do homem pelo próprio homem.”

Para saber mais sobre Plínio Marcos, acesse o site oficial (www.pliniomarcos.com).

Revista Fórum

Comentários

Anônimo disse…
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